Doria enfrenta dissidência de Alckmin em SP em meio a crise nacional no PSDB

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Doria enfrenta dissidência de Alckmin em SP em meio a crise nacional no PSDB

(JBCNEWS – DF 13/02) –  Se nacionalmente o governador João Doria (PSDB) enfrenta uma espécie de rebelião interna do partido contra sua articulação para presidir a sigla e concorrer ao Planalto em 2022, em São Paulo também há um núcleo de oposição a seus planos, formado por entusiastas de Geraldo Alckmin (PSDB).

A diferença é que Doria não detém maioria no diretório nacional do PSDB, enquanto controla o partido em São Paulo por meio de seu aliado e secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi.

Mas, mesmo em seu terreno, o estado de São Paulo, Doria não poderá implementar seu projeto para 2022 sem que haja uma composição com o ex-governador ou até mesmo um enfrentamento num cenário de prévias.

Doria trabalha para que seu vice, Rodrigo Garcia (DEM), assuma o governo do estado em abril de 2022, quando ele teria que se afastar do cargo para concorrer à Presidência da República e, depois, em outubro, seja eleito governador.

Já Alckmin quer voltar para o Palácio dos Bandeirantes, segundo seus aliados, mesmo já tendo ocupado a cadeira de governador por mais de 12 anos.

Para Doria, o lugar de seu padrinho político agora é no Congresso. Mas tucanos próximos a Alckmin afirmam que ele não tem essa vontade, que ele se encaixa no Executivo e que tem o direito de pleitear o governo.

As chances de Alckmin dependem da migração ou não de Garcia para o PSDB. Com a implosão no DEM após a eleição para a presidência da Câmara, as portas do PSDB foram abertas para o vice de Doria e para Rodrigo Maia (DEM-RJ), esse último derrotado na tentativa de eleger um aliado ao comando da Casa.

A opção por Alckmin ao Governo de São Paulo ganhou força já que o DEM se aproximou do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pode não embarcar na candidatura de Doria, o que enfraquece a aliança entre o governador e vice como contrapartida.

Um almoço no último dia 3, que reuniu Doria e Alckmin na sede do governo paulista, deu o tom da situação entre eles: cientes do impasse, precisam dialogar, mas não há concordância por ora.

Com Garcia também à mesa, o tema sensível da disputa pelo governo do estado não apareceu de forma explícita nem era essa a intenção. O convite partiu de Doria, e a ideia foi a de manter a aproximação para que a decisão sobre 2022, quando tiver que ser feita, seja mais negociada e menos traumática.

No almoço, Alckmin falou sobre a importância de que o PSDB mantenha o Governo de São Paulo em 2022 para que o partido preserve sua relevância nacional, considerando que a sigla murchou em estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Enquanto aliados de Alckmin viram na fala uma defesa de sua própria candidatura, o entorno de Garcia entendeu que o ex-governador incentiva sua entrada no partido para concorrer como tucano.

De lá pra cá, as costuras de Doria degringolaram. Foram mal digeridos entre os tucanos os planos do governador, revelados em jantar no Bandeirantes no último dia 8, de suceder Bruno Araújo (PSDB) na presidência da sigla e de fazer oposição declarada a Bolsonaro.

Doria acusou Aécio Neves (PSDB-MG) de trabalhar pelo racha na bancada de deputados, o que ensejou dura troca de farpas entre eles. O governador ainda viu, nesta semana, a movimentação de diretórios estaduais, deputados e senadores a favor da permanência de Araújo e de que o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) se candidate ao Planalto.

O resultado da desastrosa articulação política do governador atingiu São Paulo. O ex-deputado Pedro Tobias (PSDB), histórico defensor de Alckmin, já fala em disputar o diretório estadual, organizar prévias e até deixar o PSDB, se não houver espaço para que o ex-governador concorra.

“Geraldo é o nosso candidato a governador. O PSDB não vai ficar sem candidato, vamos fazer de tudo para ter prévias”, disse à reportagem, reclamando de postura fechada e não democrática do partido, em uma crítica a Doria.

Porém, mesmo tucanos próximos a Alckmin o veem com pouca força partidária diante de Doria em São Paulo e descartam a possibilidade de que ele banque uma disputa pelo diretório estadual. Afirmam, contudo, que Alckmin é mais querido entre os prefeitos do que Doria.

A avaliação geral é a de que o equilíbrio de forças do tucanato paulista passa pelo prefeito Bruno Covas, a quem Tobias chamou de principal líder no estado e disse que consultaria.

Outro entrave da candidatura de Alckmin é o processo em que se tornou réu, em julho passado, na Justiça Eleitoral de São Paulo, sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro, além de caixa dois de campanha via Odebrecht.

A acusação se refere a pagamentos para as campanhas eleitorais de 2010 e 2014, quando ele venceu eleições para o governo do estado. Segundo a Promotoria, o ex-governador recebeu R$ 2 milhões em espécie da Odebrecht na campanha de 2010 e R$ 9,3 milhões quando disputou a reeleição.

A defesa do ex-governador afirma que ele nunca recebeu valores que não tenham sido declarados e que as acusações são falsas e injustas.

Enquanto isso, Alckmin trabalha pela candidatura em seu estilo discreto -está circulando no meio político e mantendo conversas com prefeitos. Quando defende a candidatura tucana em São Paulo não fala de si, mas cita nomes como Duarte Nogueira, prefeito de Ribeirão Preto, e Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo.

Se depender do grupo de Alckmin, as prévias serão necessárias mesmo que Garcia migre para o tucanato. Nesse cenário, porém, as chances do ex-governador são pequenas. Já com Garcia no DEM, a militância do PSDB fica mais sujeita a abraçar a tese da candidatura própria.

Interlocutores de Garcia afirmam que ele deve esperar baixar a poeira no DEM e no PSDB antes de decidir. Entre suas ponderações está o desgaste eleitoral do PSDB em São Paulo, sobretudo quando as pesquisas mencionam o nome de Doria.

A chapa de Garcia necessariamente teria um vice tucano. No entorno de Doria, os nomes cotados são Vinholi, o presidente da Assembleia, Cauê Macris, e a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen.

É possível, no entanto, que a vice tenha que abrigar indicações de outros caciques paulistas, como o próprio Alckmin, Covas e os ex-senadores Aloysio Nunes e José Aníbal.

Alckmin tenta voltar às urnas após um baque em 2018, quando terminou a eleição presidencial com 4,8%, o pior resultado tucano da história. Logo após a derrota, em reunião do PSDB, o ex-governador chegou a interromper Doria e afirmar “traidor eu não sou”.

Ele foi o padrinho da candidatura de Doria à Prefeitura de São Paulo em 2016, mas já em 2018 teve que contornar a pretensão presidencial do atual governador.

Em relação a Bolsonaro, também houve mudança. Se hoje Doria é o antagonista do presidente, há dois anos foi Alckmin quem destoou do governador para criticar o presidente, chamando-o de oportunista, enquanto o mandatário do Bandeirantes minimizou a fala.

“Onde é que está a agenda de competitividade desse governo? Vamos ter coragem de criticar. Pôr o dedo na ferida”, disse Alckmin na convenção nacional tucana, em maio de 2019.

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